Se você se interessou por esse artigo, é muito provável que algum médico tenha lhe falado que você tem ou pode ter uma arritmia no coração chamada Fibrilação Atrial. E agora, você deve estar confuso se perguntando o que isso significa, quais implicações esse diagnóstico pode trazer para a sua vida, quais remédios você deve tomar e, até mesmo, quanto tempo de vida você ainda tem.
Mas, calma, nesse artigo vou te explicar de forma simples e didática um pouco sobre a Fibrilação Atrial.
A primeira coisa que você deve entender é que Fibrilação atrial é uma anormalidade do ritmo cardíaco, isso quer dizer que, por definição, não é sobre valores elevados acima de 100 batimentos ou abaixo de 50 batimentos, e sim, sobre o ritmo. Um valor de batimento cardíaco de, por exemplo, 180bpm não significa arritmia, assim como valores de 40 bpm também não significam arritmia. Mas, o que você quer dizer com isso, Dra Luiza?
O que eu quero dizer é que para diagnosticar a Fibrilação Atrial, não vamos olhar o número dos batimentos cardíacos, e sim, olhar um simples exame chamado eletrocardiograma. É através dele que conseguimos identificar uma alteração de ritmo e diagnosticar essa doença. Dito isso, você consegue entender agora que a Fibrilação atrial pode acontecer com qualquer valor de Frequência cardíaca. Eu já vi Fibrilação Atrial desde 30 bpm, 80bpm e até 200bpm
Veja abaixo a diferença de um traçado normal e outro em Fibrilação Atrial . Note que na Figura 2 mostramos uma Fibrilação Atrial e a frequência não é elevada, ela esta em 90bpm
Figura 1
Figura 2
Outra coisa importante que você deve ter em mente é que Fibrilação Atrial não é sinônimo de arritma. Arritmia é um nome genérico para vários tipos de doenças, e a Fibrilação é apenas uma delas. Para entender isso melhor veja esse artigo que escrevi sobre esse assunto
Sou médica cardiologista pela UFMG e especialista em Arritmias Cardíacas pela USP. Eu tenho um compromisso com cada paciente que entra na minha sala, ninguém sai de lá com uma dúvida.
Além de acompanhar meus pacientes no consultório, sou pesquisadora clínica em grandes estudos de fase II, III e IV. A pesquisa clínica faz parte do meu dia a dia e, por isso, prezo tanto em trazer a melhor evidência científica para cada caso que acompanho
Veja opinião dos pacientes:
Se você chegou até aqui, já deve ter entendido um pouquinho mais sobre Fibrilação Atrial, e agora que você já tem um mais de intimidade com essa arritmia, você também pode chama-la de FA.
FA, é assim que nós, profissionais da saúde, entre os corredores dos hospitais e os plantões lotados apelidamos essa arritmia. Não importa onde, em qualquer lugar desse Brasil, é sempre FA que os médicos vão falar. Sabe por que dessa intimidade? Porque a FA é muito comum, ela esta sempre lá. Dificilmente um médico passa um dia de plantão sem ver, ao menos, uma FA. Então, se você tem FA você não esta sozinho. Dados internacionais sugerem que essa arritmia atinja, cerca de, 37 milhões de pessoas em todo o mundo.
A prevalência da fibrilação atrial está aumentando globalmente, tornando-se uma preocupação significativa de saúde pública. A incidência tende a aumentar à medida que a população envelhece e os fatores de risco cardiovasculares, como hipertensão arterial, diabetes e obesidade, se tornam mais prevalentes.
É verdade que a FA tem um certa predileção por idosos e pessoas com doenças como diabetes e pressão alta. Porém, de jeito nenhum é uma doença exclusiva desse grupo, com frequência temos paciente jovens e, até então, saudáveis apresentando essa anormalidade do ritmo.
Então, em se tratando de Fibrilação Atrial, nos temos 3 grandes grupos de pacientes.
- Aqueles que tiveram sintomas como aceleração do coração, mal estar, tontura, sudorese ou, até mesmo, diminuição abrupta dos batimentos e, por isso, fizeram um ECG e acabaram sendo diagnosticados com FA.
- Os que não sentiam nada e fizeram o exame Eletrocardiograma de rotina para um check up , e acabaram descobrindo a FA (essa é a grande maioria dos casos).
- E o terceiro grupo são aqueles que tem FA, convivem com ela, mas ainda não sabem que tem (esse é o caso mais perigoso).
Causas da Fibrilação Atrial
A causa exata da fibrilação atrial não é totalmente compreendida, mas uma combinação de fatores genéticos, estruturais e ambientais desempenha um papel importante no desenvolvimento da condição. Fatores de risco conhecidos incluem:
- Idade avançada
- Hipertensão arterial,
- Doença cardíaca estrutural
- Diabetes
- Obesidade
- Apneia do sono
- Consumo excessivo de álcool
- Tabagismo
- Histórico familiar da condição.
Mas, vamos ao que interesse… Tenho Fibrilação Atrial, vou morrer?
Olha morrer de FA, provavelmente, não. Mas, você pode morrer em decorrência dos complicações dela, como, por exemplo, um AVC, insuficiência cardíaca, dentre outros. Se não identificada e, corretamente tratada, a FA leva a complicações. E sabe porque é tão importante fazer uma consulta regular com o cardiologista? Porque em grande parte dos casos a FA é silenciosa, ela não da sintomas e, as vezes, o primeiro sintoma pode ser o AVC. Por isso, precisamos identificá-la o quanto antes. Veja aqui também sobre a importância de realizar check up regularmente
Então, como Tratar Minha Fibrilação Atrial?
Independente em qual tipo de paciente você se encaixa, sintomático ou assintomático, podemos escolher duas formas principais de tratamento: Controle do ritmo ou Controle de frequência cardíaca. Abaixo explico um pouco sobre cada modalidade:
- Controle do Ritmo: Aqui tentaremos retirar seu coração da arritmia. . Então, observe a figura abaixo -queremos transformar os batimentos de cima nos batimentos de baixo (batimentos normais).
Podemos escolher 3 maneiras diferentes de fazer:
- Cardioversão elétrica – Sabe aquele famoso choque no peito tanto passa em filmes? Então, é exatamente isso que será feito, o famoso choque no coração (realizado em ambiente hospitalar). A intenção será retirar seu coração da arritmia
- Cardioversão química – através de infusão medicamentosa na veia ou oral
- Ablação por cateter – Procedimento médico que utiliza um cateter que é inserido em uma veia na virilha ou no pescoço e guiado até o coração. O médico, então, utiliza o cateter para aplicar calor, frio ou energia elétrica em áreas específicas do coração para interromper as células que estão causando a arritmia. Isso ajuda a restaurar o ritmo cardíaco normal e pode reduzir ou eliminar a necessidade de medicamentos para controlar a condição. Geralmente é um procedimento seguro e eficaz.
2. Controle de frequência cardíaca : Nesse caso o paciente se manteria com a arritmia, mas controlaríamos com remédios o valor de frequência para não ficar muito alta. Lembra que conversamos que o que gera sintomas é a aceleração do coração e não o erro de ritmo?
E você pode estar se perguntando: “Mas, Dra Luiza, não é perigoso controlar apenas a frequência e manter meu coração com arritmia?”
Minha resposta é dependente. Na verdade, existe o que é melhor em cada caso. Decidir controlar o ritmo ou a frequência depende de inúmeros fatores. E só um bom arritmologista, juntamente com você, é que poderão decidir o que é melhor para o seu caso.
Um bom arritmologista deverá analisar a sua idade, doenças pré existentes como diabetes, infarto cardíaco, hipertensão. O médico deverá, também, analisar o tamanho e a força do seu coração, há quanto tempo você tem a arritmia e os seus sintomas. Enfim, é um conjunto de fatores que influenciarão nessa decisão, não existe certo ou errado. Existe o melhor para o seu caso!
Como evitar as complicações da Fibrilação Atrial
Se você leu até aqui, já entendeu mais sobre a Fibrilação atrial, mas pode estar se perguntando como evitar as complicações da FA, já que são elas que podem, eventualmente, serem fatais.
A maioria das complicações, como dilatação do coração, aumento do volume atrial e diminuição da força do coração, nos trataremos com a reversão da arritmia ou com o controle da frequência cardíaca, como explicado acima. Mas, a mais comum e, também, a pior das complicações é o Acidente Vascular Cerebral (AVC), ele não pode ser evitado só com essas medidas.
E então, Dra Luiza, se eu tenho FA estou fadado a ter um AVC?
A resposta é não! Mas, tenha em mente, que uma vez que você teve, pelo menos, um evento de FA seu risco de ter um AVC já é muito maior que da população em geral. E para diminuir um pouco esse risco, os pacientes precisam fazer uso de um remédio específico para esse fim”. E nesse casso, só o medico arritmologista poderá te orientar qual o melhor remédio para você.
Em resumo, a fibrilação atrial é uma condição cardíaca comum que apresenta desafios significativos de diagnóstico e tratamento. Com abordagens integradas que combinam tratamento médico, mudanças no estilo de vida e medidas preventivas, é possível controlar eficazmente os sintomas, prevenir complicações graves e melhorar os resultados de saúde para pacientes com fibrilação atrial.
Mudanças no Estilo de Vida Para Auxiliar no Tratamento da Fibrilação Atrial
As mudanças no estilo de vida desempenham um papel importante no tratamento da fibrilação atrial (FA), ajudando a controlar os sintomas, prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida. Aqui estão algumas mudanças no estilo de vida que podem ser benéficas para pacientes com FA:
Dieta saudável: Uma dieta rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras, e com baixo teor de gordura saturada, colesterol e sódio, pode ajudar a controlar a pressão arterial, reduzir o colesterol e manter um peso saudável. Além disso, limitar a ingestão de cafeína e álcool pode ajudar a reduzir os episódios de FA em algumas pessoas.
Exercício regular: A atividade física regular pode fortalecer o coração, melhorar a circulação sanguínea e ajudar a manter um peso saudável. Exercícios aeróbicos, como caminhada, natação, ciclismo e dança, são especialmente benéficos. No entanto, é importante consultar um médico antes de iniciar qualquer programa de exercícios, pois algumas atividades intensas podem desencadear episódios de FA em pessoas predispostas.
Controle do peso: O excesso de peso pode sobrecarregar o coração e aumentar o risco de FA e outras condições cardiovasculares. Perder peso através de uma combinação de dieta saudável e exercícios regulares pode ajudar a reduzir o risco e controlar os sintomas da FA.
Gestão do estresse: O estresse pode desencadear episódios de FA em algumas pessoas. Práticas de relaxamento, como meditação, ioga, tai chi, exercícios de respiração profunda e hobbies relaxantes, podem ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade, promovendo assim a saúde do coração.
Parar de fumar: Fumar aumenta o risco de FA e outras condições cardíacas. Parar de fumar pode melhorar significativamente a saúde do coração e reduzir o risco de complicações relacionadas à FA.
Limitar o consumo de álcool: O consumo excessivo de álcool pode desencadear episódios de FA em algumas pessoas e aumentar o risco de complicações. Limitar o consumo de álcool ou evitar completamente o consumo pode ajudar a controlar os sintomas da FA.
Gerenciar condições subjacentes: Condições médicas subjacentes, como hipertensão arterial, diabetes e apneia do sono, podem aumentar o risco de FA e complicar o tratamento. Gerenciar essas condições com medicamentos e mudanças no estilo de vida pode ajudar a controlar os sintomas da FA e reduzir o risco de complicações.
Monitoramento da saúde cardiovascular: Manter um registro dos batimentos cardíacos, sintomas e fatores desencadeantes pode ajudar a identificar padrões e gerenciar melhor a condição. Dispositivos como monitores de frequência cardíaca portáteis podem ser úteis para monitoramento contínuo.
Cumprir o plano de tratamento: É importante seguir o plano de tratamento prescrito pelo médico, incluindo o uso adequado de medicamentos, acompanhamento médico regular e participação em programas de reabilitação cardíaca, se aplicável.
Essas mudanças no estilo de vida podem não apenas ajudar a controlar os sintomas da fibrilação atrial, mas também promover a saúde do coração e melhorar a qualidade de vida geral. No entanto, é importante consultar um médico antes de fazer quaisquer mudanças significativas no estilo de vida, especialmente se estiverem relacionadas à dieta, exercícios ou uso de medicamentos.
MITOS E VERDADES SOBRE A FIBRILAÇAO ATRIAL
- Mito: A fibrilação atrial é uma condição leve e não representa um risco significativo para a saúde.
- Verdade: A fibrilação atrial pode aumentar o risco de complicações graves, como AVC e insuficiência cardíaca.
- Mito: A fibrilação atrial é uma condição que afeta apenas idosos.
- Verdade: Embora seja mais comum em idosos, a fibrilação atrial pode ocorrer em pessoas de todas as idades, inclusive jovens.
- Mito: Exercícios intensos sempre desencadeiam fibrilação atrial
- Verdade: Embora o exercício extenuante possa desencadear fibrilação atrial em algumas pessoas, o exercício regular e moderado é geralmente benéfico para a saúde do coração.
- Mito: A fibrilação atrial é uma condição que pode ser completamente curada.
- Verdade: Embora o tratamento possa controlar os sintomas da fibrilação atrial, geralmente não há cura definitiva, e a condição pode exigir gerenciamento contínuo.
- Mito: A fibrilação atrial é sempre hereditária.
- Verdade: Embora haja uma predisposição genética em alguns casos, a fibrilação atrial pode ser causada por uma variedade de fatores, incluindo pressão alta, doença cardíaca, diabetes e obesidade.
- Mito: Se os batimentos cardíacos voltarem ao normal, a fibrilação atrial não representa mais um risco.
- Verdade: Mesmo após a restauração dos batimentos cardíacos normais, o risco de AVC pode persistir se não forem tomadas medidas preventivas.
- Mito: A fibrilação atrial não pode levar à morte.
- Verdade: A fibrilação atrial aumenta o risco de complicações graves, incluindo AVC e insuficiência cardíaca, que podem ser fatais.
- Mito: A fibrilação atrial não afeta a qualidade de vida.
- Verdade: A fibrilação atrial pode causar sintomas que impactam a qualidade de vida, como fadiga, falta de ar e diminuição da capacidade de realizar atividades físicas.
- Mito: A fibrilação atrial não requer tratamento se não houver sintomas.
- Verdade: Mesmo sem sintomas, a fibrilação atrial pode aumentar o risco de complicações graves, e o tratamento pode ser necessário para reduzir esse risco
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